Manufaturados “de Barros”
“Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão”, li no artefato, ao cavoucar estrelas no Pantanal. “Do lugar onde estou já fui embora”, farfalhou uma asa de árvore que debandava em folha seca. Da minha arqueologia, que dó: pisei nas mesmas terras com Manoel de Barros, mas só agora me pisoteou Manoel de Pó. Morri a estranheza de chorar o desconhecido que já não vivia; então sorri: “Ontem choveu no futuro”.
O microconto é uma singela homenagem a Manoel de Barros, poeta que cresceu na região do Pantanal e faleceu em 2014, na cidade de Campo Grande, MS, onde morou a maior parte da sua vida. Também eu residi em Campo Grande, de outubro de 2008 a dezembro de 2010, no entanto, à época eu não sabia da existência de Manoel de Barros. Assim, tento transmitir um pouco do meu lamento em decorrência de, somente depois da morte do poeta, eu ter descoberto a sua existência e por, com tanto atraso, saber que compartilhamos um período de tamanha proximidade, andando "nas mesmas terras".
E por que "Manufaturados"? Porque Manoel de Barros sempre escreveu apenas à mão, em seus caderninhos personalizados, os quais ele mesmo fazia. Adicionalmente, "manu-faturados" remete a "Manuel". Por fim, é uma palavra que guarda relação com a arqueologia lírica que busquei no microconto.
Escrito em Santa Rosa, RS, de 25 para 26 de janeiro de 2023, o microconto recebeu menção honrosa na semana 3 do "Campeonatinho de Microcontos" da @editora3serpentes:
https://www.instagram.com/p/CoCnXkDAsCX/?igshid=YmMyMTA2M2Y=
Dessa iniciativa surgiu a coletânea “Cada palavra conta”, para a qual 4 trabalhos meus, incluindo este, foram selecionados por Rodolfo Minari, compositor, escritor e roteirista do filme "Noites Alienígenas", grande vencedor do 50º Festival Internacional de Cinema de Gramado.
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